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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Minha criança


  Olá amigos.
 Este texto foi escrito por " Artur da Távola". Se eu tivesse a inspiração e a capacidade dele, eu escreveria algo bem parecido.
 Não sei se vocês já conhecem. Vou transcrevê-lo.

Minha Criança
(Artur da Távola)

"Peço licença para falar  na minha criança, a que mora aqui dentro e não me abandonará jamais. Talvez com a morte 
eu até regresse a ela.  Os quase setenta anos que 
dela me separam, não a removem.
Ela ali está, magra e temida, a me olhar 
e ditar comportamentos e reações.



Minha criança esteve em todos os meus filhos e aparece nos meus sete netos. Ela se refaz da morte da irmã e abre os olhos para o mundo, com a certeza de que veio ao mundo para
alguma missão, embora sempre se considere inferior ao tamanho da mesma.

Minha criança sente enorme saudade de pai mãe e de mãe pai 
com quem o adulto já não conta, salvo no exemplo , nas
 saudades, e nas orações , quando me domina uma fugidia sensação de estarem, incorpóreos, a meu lado,
mas sem se manifestarem.

Minha criança possui incomensuráveis solidão diante 
do mistério do infinito. Ainda recua diante do violento, 
embora não o tema, e ainda se infiltra em episódios  de 
distração e inocência  inexplicáveis num homem com 
minha carga de vivência.

Minha criança ainda gosta  de abraços calorosos, proteções misteriosas e de um modo de rezar que o adulto  nunca
mais conseguiu tais a entrega e a total  confiança 
no mistério e na proteção de Deus.

Minha criança carrega o melhor de mim, é portadora do meu modo triste de falar de coisas alegres e de algum susto 
misterioso sempre que se lhe impõe alguma expectativa
 de enfermidade. 

Minha criança é inteira, mansa, bondosa e linda.
Eu a amo, preservo e dou boas gargalhadas quando a vejo
infiltrar-se nas graves decisões de algumas de minhas
responsabilidades adultas.
Ninguém a vê, salvo eu. Ninguém a acaricia, salvo eu que a 
estimo , procuro e admiro mais a cada dia e com quem converso
histórias infinitas, que somente a imaginação pode conceber
no universo maravilhoso da fabulação interior e solitária.

Diariamente passeio com minha criança e estou muito feliz 
por cumprimentá-la, levar-lhe balas, nuvens, aquele cão da meninice, as canções de minha mãe e os carinhos de
meu pai, levar-lhe os presentes que ganhava de meu padrinho
e toda a enorme vontade de ser que então adivinhava
para a minha vida. Vida que chegou, ameaça passar,
e da qual não me arrependo.

Minha criança adivinhou em seus sonhos o adulto que
eu queria ser. E trás alegria e esperança à 
minha idade atual. Hoje sou, a muito tempo, o adulto 
que sonhei ser. Talvez com menos tensões, mas igualzinho em meu modo de amar a vida."

Lulú,  12 de NOVEMBRO de 2012.


2 comentários:

  1. Um belo texto. Devemos manter a nossa criança sempre viva...
    Beijos,
    Élys.

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  2. Sou fã do Arthur da Távola.
    A nossa criança jamais nos deixa, nós é que a deixamos, muitas das vezes e perdemos grandes oportunidades de sermos autênticas, como descreveu tão lindamente o autor.
    Adorei, Lulú.
    Bjos,
    Calu

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